quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Marc(a)dor


Desde sempre que tens estado aqui ao meu lado,
Caminhaste comigo sem eu por aqui te querer,
Não segui simbolos, crenças ou meras ideias,
Segues-me, ignorando que eu deixei o passado,
E marcas-me como se eu assim quisesse viver,
Dentro de mim, como sangue em minhas veias.

Vou por uma estrada que tem o tempo calado,
Atravesso um deserto, chão de areias vermelhas,
Os abutres flutuam no vento, silenciosos agora,
Esperam por um farrapo de um ferido soldado,
Enquanto se abeiram cínicas as sentinelas velhas,
Tenho de te acabar, eu tenho marcada uma hora.

Não vou deixar que venhas mais atrás de mim,
Vou trocar a máscara e esconder-me incerto,
Mesmo sabendo que a vida vá sem um retorno,
Ofereço a alma penhorada a quem me dê fim,
Talvez não desistas, talvez fiques por aqui perto,
Eu só quero saber se a morte aceita um suborno.

JMC In Redenção



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Percursos




No deserto que atravessas,
Não vejo óasis, apenas e só areia,
Comparo-o ao tempo, diluído,
Às dunas que te fazem promessas,
Aos chacais à espera de ceia.

Não és o primeiro na insignificância,
Nem o último serás por certo,
Digo-te, não por muito saber,
Mas por me comparar na tolerância,
Por atravessar esse mesmo deserto.

Não voltar a ter carcereiros,
Sei agora que comigo vens,
No tortuoso trajecto, caminhamos,
Somos assim, decerto parceiros,
Deste pesadelo não mais reféns.

Para trás ficas tu desalento,
Já não és a velha profecia,
Não mais dirás o nosso destino,
Peço-te emprestado o teu alento,
Que já foi o meu, por ironia.

Seguimos em frente, peregrinos,
Na nossa fé algo insolente,
Temerária miragem,
Ouvindo o badalar dos sinos,
Caminharemos imprudentes.

Por esta nossa última vez,
A minha mão te ofereço,
Nesta imensa jornada,
Saberemos o mal que nos fez,
Este mundo, eterno segredo adverso.

JMC In Contradição





quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Homem luz.




Parece-me um estranho caminho,
O que tenho de tomar de encontro a mim,
Pareço-me com um homem sozinho,
Na verdade da solidão...
Na falsidade do fim.

Viajo no firmamento da imaginação,
Sendo estranho corpo no espaço,
Concordo que a imperfeita relação,
Me cala no egoísmo...
Seguindo-me, comum no que faço.

Vejo-me ninguém; sinto-me nada,
Julgo-me no sonho...imprudente,
Deixo a justiça calada,
No pesadelo esquecido,
Onde adormeço lentamente.

Passo longe do horizonte ideal,
Vendo as luzes que são indício,
Panorama, paisagem irreal,
Indicando vagamente,
A imagem do precipício.

Vulgarizo-me, sendo assim bastante,
Enquanto vozes me gritam a paragem,
Sussurra-me o vento constante,
Que seja peregrino,
Que seja a minha coragem.

E assim encontro-me novamente,
Saio da sombra que não me seduz,
Deixo de ser a estrela cadente,
Sem desaparecer na escuridão,
Tornando-me no homem luz.

JMC In Contradição


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Abrigo

A noite chega num raro esplendor,
Na vida de quem não quer viver,
Abandonado nos seus braços,
Sente a brisa que entardece a dor,
Sentindo a vida, que faz por perder.

Deita-se esperando que o mundo acabe,
Procurando o abrigo inexistente,
Privando com as privações,
De si já nada quer, nem sabe
Se os outros podem sentir o que sente.

O amanhecer fica-lhe longe no olhar,
Assim como o passado sem lembrança,
Mais vale ficar por aqui,
Nestes breves momentos, manda-se calar,
Não querendo mais encalhar na esperança.

Já não sofre na dor que lhe foi imensa,
As questões e dúvidas não o enlouquecem,
Estranha a lucidez alcançada,
Mas não a vida num corpo que já não pensa,
Nem os demónios que lhe aparecem.

Só pede que os anjos não se afugentem,
Para longe, pois está próxima a viagem,
Esquecendo o medo, fica-se pelo anseio,
Quer nesta última viagem, que lhe apresentem
O fim, a luz interminável da coragem.


JMC In Contradição

domingo, 11 de dezembro de 2011

Futura(mente)





Segundo notícias divulgadas no Global Great Disaster...a humanidade está infectada por um vírus mortal de origem até à pouco tempo completamente desconhecido.
Investigadores de vários pontos do globo, têm estado, desde então no seu encalço, analisando-o e informando as autoridades competentes. Não se trata de uma pandemia ou epidemia, mas sim de um único caso isolado.
O vírus, já denominado de 7 BHB, sigla encontrada para sintetizar 7 Billions of human beings está neste preciso momento em franca evolução, sendo de prever que no espaço de menos de um quarto de século colocará a humanidade na rota da extinção.
Embora, sempre tenham sido mostrados alguns indícios desta terrível doença, só nos últimos 50 anos é que os reais sintomas conseguiram despertar em alguns sectores, embora tardiamente, motivos de verdadeira preocupação.
Os sintomas que mais transparecem, são suores frios(degelos) erupções cutâneas(sismos, tsunamis) incontinência(chuvas fora de época) alopécia
(zonas desertificadas) ardores(guerras), etc. Também em algumas ocasiões se tem notado tonturas, cheiros nauseabundos(manifestações radicais). As zonas mais afectadas nem sempre são as menos protegidas, conhecendo-se alguns continentes onde a sua propagação é mais rápida e fulgurante, pois só num dos continentes se encontra concentrada cerca de dois terços desta virose.
A origem desta doença ainda permanece desconhecida, embora alguém defenda que pode ser transmitida por via sexual. Especialistas e muitos cépticos, asseguram que pode muito bem ter sido por via da masturbação.
A estirpe deste vírus na sua forma mais mortífera apresenta-se na forma de idiotas, ignorantes, arrogantes, orgulhosos, corruptos, políticos radicais, militares, avaros, invejosos, dogmas e alguns vips. Unindo-os uma curiosa manifestação, não conseguem estar muito tempo em consonância...
O tratamento encontrado reduz-se neste momento a alguns discursos, conferências, encontros ocasionais, muita discussão, alguns premiados, etc.
Alguns cépticos apontam a sua (da humanidade) deslocação para outras galáxias como a cura imediata. No entanto como é do conhecimento geral já será tarde a não ser que a venham buscar...



Desculpem-me, mas não tenho paciência para tantos “contos” de Natal...e o dia 25 de Dezembro “apenas” assinala a vinda ao mundo de Jesus Cristo, não do Pai Natal...

NB- Este pequeno texto foi escrito por mim noutro "sítio" à dois anos, no entanto por coerência e por o considerar actual decidi voltar a publicá-lo.



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um último adeus...





Estou ainda por aqui,
Sem perceber o que faço,
Sem saber se chego ao fim,
Sem um rosto, sem um traço.
Podia esperar por ti,
Mas a vida continua,
A minha tem pressa de mim,
Enquanto tu esperas pela tua.

Fez-me falta a minha ilusão,
Como aquele teu momento,
De perdoar sem haver perdão,
Do teu amor sem sentimento.
Este é um último adeus,
Por querer um adeus perdido,
Nos impossíveis sonhos meus,
De não ter teu sonho existido.

Não encontro o silêncio do nosso olhar,
Nem te encontro mais a ti por chorar,
Tenho raiva de nunca mais te querer,
E a condenação de nunca te entender.

A manhã foi apenas um favor,
Na pressa de não nos querer,
Era  doce o sorriso da dor,
Era a lágrima sem eu saber.
A tua pele tatuada de amor,
Escondeu a tua única verdade,
Aquela que te amarga o sabor,
De um beijo não saber a saudade.

Podias ensinar-me a ouvir,
Se teus lábios se abrissem,
Podias ser a verdade e sorrir,
Se quisesses que te ouvissem.

Não vou estar para te dar mais a mão,
Se teimas em cair e não querer viver,
Não vou pisar o teu sangue no chão,
Se acordas com a vontade de morrer.


JMC In Redenção


Vaguear

 

 

 

Enquanto vejo lá fora a chuva que teima em aqui cair,

Lembro-me como era antes de te conhecer, antes de sorrir,
Onde ficavam as minhas incertezas e o não te conhecer,
Esse tempo já faz parte do passado, não quero mais saber,
Algum dia tinhas de ficar ao meu lado, algum dia seria.


Vaguear, não o vou mais fazer, não vou sequer me lembrar,
Vou amar-te para sempre, contigo vou dar a volta ao mundo,
Dou graça por me teres encontrado, por eu ainda aqui estar,
Vaguear, não sei já o que isso é, não sou mais um vagabundo.


O tempo corre a nosso favor, incrivelmente assim tão devagar,
E eu vou dar-te aquilo que nunca te dei, assim por eu te amar.


Um conto ou um pequeno feitiço, algo assim aqui aconteceu,
As certezas agora sei que existem, são como dias de sol reais,
Agora quero-te como sempre te quis, agora ainda te quero mais.
Vou estar sempre aqui ao pé de ti, dar-te o que ninguém te deu.


Vaguear, fui por caminhos que não me levaram a lado nenhum,
Foste tu que me encontraste aqui, onde estava sem um sentido,
Dou Graça(s) por tu me teres acordado de um sonho perdido.
Vaguear, não quero nem saber, nós os dois sempre fomos um.


És tu que reinas agora nos meus sonhos, és tu quem eu sonho.
És tu quem não sai mais da minha vida, és tu quem eu amo.


Vaguear, não quero nem saber...


JMC In Redenção

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Cinzas




...Calei-vos na minha angústia,
E a inocência da minha compreensão,
Ficou calada no vosso julgamento.
Ajuizei-vos na minha má intenção,
Perdoei-me no meu eterno esquecimento.

A escuridão invadiu-me os sentidos,
Desencarcerei a justiça que me sobrou,
Sem procurar vingar a minha vontade,
Apenas calar quem já me amordaçou...
Revelando a vossa desesperada maldade.

Recomeço das vossas cinzas,
Da vossa sôfrega e negra melancolia,
Partirei, antes de me sentir miserável,
Encantado numa volátil brisa fugidia,
Deixando a vossa bonança improvável...


JMC In Contradição


domingo, 25 de setembro de 2011

O Cerco



O copo vazio que me sobra na mão, enche-me o arrependimento,
Luzes de néon, frustradas nos bares iluminam a demente solidão,
Uma sirene sôfrega de intermitência interrompe-me os sentidos,
Tenho um momento, disparo meus passos sem qualquer direcção,
Subo ao carrossel da incerteza, desço alheio no desconhecimento,
Grito, empurro a raiva, tapando a boca com os meus dedos feridos.
As minhas parcas memórias aceitam-me enquanto eu não me perco,
Sinto a pele a ficar fria, a prostituta aproxima-se sem minha vontade,
Dá-me um valor e sem querer faz-me sentir a minha dor esquecida,
Acabo no meu preço, o beijo que evitamos é justamente essa verdade,
Dou-lhe o braço, as carícias são demasiado caras, saio só deste cerco,
Acompanha-nos uma sombra que julgo ser a minha vida despida.



Tenho uma vida vazia, onde não te deixo entrar,
O cerco acaba com o dia, eu acabo sem terminar,
A minha noite arrefece enquanto o céu se apaga...
Dispo o corpo que me oferece uma sedução vaga...



O tráfego desconhece os sinais e os sentidos contrários determinam,
Que os saltos altos pelo passeio ensurdeçam a minha negra lucidez,
O elevador encerra-me na rotina, enquanto os rituais se despem,
Os lençóis encobrem a sua inocência, eu descubro a minha vez,
Enrolamos um cigarro, acendemos as palavras que nos ensinam,
Discutimos por um punhado de ideais que sempre nos esquecem.



Volto à rua, o que a garrafa me oferece é algo em que eu acredito,
Nesta roleta os dados não são meus, os parceiros de jogo morrem,
Outros sem abrigo acenam-me, e vejo-me a perder sem ter jogado,
Aceito um nome falso, um número invisível, mas não me acordem,
Sei que este sonho não é meu, estou vestindo apenas um fato bonito,
As feridas que não cicatrizam mostram-me que ainda estou cercado.



Piso a seringa que inscreveu mais um nome nos jornais da manhã,
Olhos brilhantes, no beco da discórdia, eu sinto que algo vai mudar,
Os ritmos urbanos entram pelos escuros becos de uma irmandade,
Desconheço os bens mascarados, o ódio é algo mais que quis roubar,
Agora levanto os corpos, o sol quer nascer, a lua deita-se minha irmã,
O que resta de mim vai deixar o cerco vazio, ganhando a liberdade.


JMC In Redenção


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Menos que nada...

Silhueta, vaga, perdida?
Num espaço imenso,
Sem perfil, sem sombra,
Sem dor sentida;
Que não fogo intenso.
Jaz na penumbra,
Algures,
Entre nada.



Vã promessa de afecto,
Sem rumo tomado,
Não é cinza nem pó;
É sitiado do trajecto,
Ausente do tempo danado;
É desgraça só,
Sorte agonizada.



Foi a promessa profecia,
Sem idade, sem a razão,
Era o olhar do futuro,
Mas não passou de heresia,
Misericórdia então,
Por quem não é puro,
Por quem?
Por todos.



A serpente, a maldade,
Por espelhos abençoadas,
Subiram do Inferno.
Ruíram as Santidades
Outrora encantadas,
Nunca e sempre eterno,
É o fogo,
Que arde sem lume.



JMC In Contradição


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Segredos




Murmúrios que liberto no teu olhar,
Alheios ao doce amanhecer dos sentidos,
Despeço-me num tom breve de aqui ficar,
Anseio por não mais estarmos perdidos.


Lentas ficam as noites do nosso adormecer,
Enquanto as estrelas se vão apagando,
Nascendo radioso o sol do nosso querer,
Acordando os corpos que se estão amando.


Erguemos o nosso amor desencontrado,
Caminhamos de mãos dadas ao luar,
Deixamos nascer nosso filho desejado,
Começamos a crescer no nosso sonhar.


És a minha torre de força e esperança,
Levanto-me do chão onde já sobrei,
Liberto a fé sem condição de vingança,
Parto por ti, sem lembrar que em ti fiquei.


Fomos os amantes de outra escuridão,
Deixámos tudo em nós por renascer,
Tendo a certeza de que nada foi em vão,
Deixando que me ames sem me arrepender.


JMC In Punição


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Correntes


Não temo estas correntes por me prenderem,
Não são de aço frio ou de ferro temperado,
São torrentes sem fim, de começo inesperado,
São de ouro, de luz, de sempre, por nos trazerem,
Presos no desejo acorrentado da liberdade,
São anéis que se perdem no ciclo da vida,
E a viagem sôfrega nos elos da nossa vontade,
Renascendo na mudança que nos foi oferecida.

São estas as correntes que nos ligam à infância,
Que nos fazem sorrir hoje pelos nossos passos,
Porto seguro onde os navios prendem a distância,
Onde nossos olhos descansam no acaso destes laços,
Uma lágrima sinto-a soltar-se, sem ter continuação,
Não existe nunca mais despedida, nem um adeus,
Se quebrar esta corrente, outra virá, outras serão,
Correntes que correm, que aqui ficam em traços meus.



JMC In Redenção

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Besta Angelical




Ascende no disfarce de uma efémera borboleta púrpura,
Profetizando as parábolas destes gentios sem esperança,
Lançando pequenos murmúrios de um exército salvador,
Belo pecado e os corvos de negro malditos na vingança,
Acordam crentes e os anjos caídos no prazer e no pudor.

Gárgulas e quimeras observam-na nas noites sombrias,
Enquanto os delírios e o feitiço veneram a sua demência,
São mil receios, alheios que se recolhem nas pedras frias,
Falsos profetas a julgarem-se no luto e na sua clemência,
No estranho arco-íris negro que ilumina as suas profecias.

As crónicas do tempo assinadas pelas garras do demónio,
São capítulos rasgados no granito de uma pedra tumular,
Lembram bravos guerreiros caídos no chão ensanguentado,
Protegendo-se no livro da fé, e nos segredos por revelar,
A besta angelical paira sobre o fétido silêncio aniquilado.

Abutres alinham-se no céu, circulando em volta do banquete,
A raiva dos nobres cães esfaimados é perfeita nesta devoção,
No purgatório dos incautos, amontoam-se coroas decepadas,
Caveiras odiosas que o tempo desfigura em infinita maldição,
Suspiros derradeiros enlutam a noite das almas resgatadas.

Seus lobos famintos que desventram os cadáveres condenados,
E as virgens descalças, possuídas pelos meus demónios, choram,
Defronte do Príncipe das Trevas, senhor das eternas fogueiras,
Por justiça e misericórdia, despidas na pele por mim se demoram,
Suplicando enquanto a besta se devora expiando seus pecados...


JMC In Redenção

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lembrança




Lembro-te com saudade,
De como eras livre.
Lembro-te no chilrear dos pássaros,
De como eras meu na poesia,
De como eras adeus,
De quem só ficava, na margem.
De quem sozinho partia.
Lembro-te como eras amigo de quem sente,
Sede de ti, sede de viagem,
De como eras transparente
Nas tuas límpidas águas,
Que mais eram cristal,
De como eras verdade, como espelho.
De como às vezes, poucas, eras fatal,
E afogavas em teu leito, as mágoas,
Desamparadas sem ponte, sem conselho;
Lembro-te bem,
De homens em ti navegar,
De seres fronteira entre nações;
Lembro as tuas cascatas,
Entre as rochas a murmurar,
Segredos de amantes,
De seres a fonte de inúmeras canções,
Também me lembro de seres receio,
Das tuas águas a subir,
De alagares as terras
Do trigo e do centeio;
Lembro-me de ti a descer,
Por entre a vertigem das serras,
E acabares nas planícies
A espreguiçar teus braços;
Das ninfas que te namoravam,
Dos nenúfares à superfície,
Como jardins suspensos;
Lembro-me de seres amor e traição,
De ter raiva da tua limpidez,
De ser egoísta e querer-te só para mim,
Lembro-me de não ter razão,
Porque eras tu afinal de todos e de ninguém,
Querias correr e abraçar o mar,
Sempre soubeste, ser esse o teu fim.


JMC In Contradição

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Grades



Antes eu escrevia palavras onde me ficava a dor,
Rasgava o ódio e a raiva que eu sempre quis ter,
Antes eu sentia o infame que nunca posso ser,
Queria ver o sangue jorrar ao invés de um amor.

Antes eu encarcerava o azul que nasce no céu,
Numa sala repleta da minha escuridão,
Era a surdez na alegria de uma linda canção,
Era o definhar da tristeza em corpo que é meu.


Antes eu morria quando a luz me trespassava,
E do meu poema só o sangue me dizia,
Que o abismo era a saída que eu queria,
A sorte emprestou-me a desdita que me calava.

Construí um castelo cinzento que já não quero,
De pedras frias e gastas, vestidas de maldito escuro,
Numa colina de negrume, onde não mais perduro,
Onde já não subo os degraus do ínfimo desespero.

Reino em outro sem corte, sem trono desejado,
Onde me amam por tudo aquilo que eu vou ser,
Onde eu todas as noites te amo até me perder,
A ti, mulher que me fez humilde de fortuna, elevado.

Hoje sou homem novo sem grades, ou outra prisão,
Olho de fora para dentro, de mim, é lá que eu estou,
Foi ali que eu me encontrei e pertenço onde eu vou,
Sem ficar onde estou, procurando livre a imensa solidão.

JMC In Redenção

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Embriaguez




Sais na noite de bar em bar,
Onde outros esvaziam conversas
Mudas de sentido; no vulgar ritual,
Das escusadas promessas.

Da vida que não te deseja,
Mal dirás na frustração,
Acompanhada do teu sofrer,
Silenciosa...por condição.

E vês-te a ti num copo vazio,
Solidário, calado e transparente,
Servido nas vezes sem conta;
Vulgarizado, continuamente...

Sou capaz de te imaginar,
Nos passos do teu egoísmo.
De concordar no teu suicídio,
Incapaz de te indicar o abismo.

És cliente da influência,
Jogador de muito perder,
Adormecido no instinto,
Insuficiente...como ser.

Anjos passeiam na madrugada.
Conduzidos na tua ficção.
Negros demónios embriagados,
Empenhados na tua extinção.


JMC In Contradição


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pedaços




Naquele estranho lugar onde eu nasci,
Onde os homens se ajoelham nos rituais,
Onde os espelhos mentem como iguais,
Existe um único caminho que eu percorri,
Uma certeza que não se chama saudade,
Mães que nos acolhem em beijos ingratos,
Soldados que atiram sobre os insensatos,
Pobres famintos que mendigam a vaidade,

Naquele estranho lugar onde eu cresci,
Crescem flores nos buracos do alcatrão,
Morrem os amores e as pétalas pelo chão,
Desintegram-se pedaços do nada que vivi,
Crianças que estropiam lágrimas perdidas,
Nos olhos cintilantes das noites sem gente,
Por entre as mãos sujas, por entre feridas,
Renasço eu de um anjo negro indiferente,

Daquele estranho lugar de onde eu cheguei,
Trouxe a memória de um outro vazio repleto,
Esta ganância que arrastei por este trajecto,
É soberba e generosa, foi por ela que ultrajei,
Tanto quis o silêncio, tanta vez fugi de mim,
Servi como os outros para ser quem não quis,
Dos meus e de outros pedaços assim eu me fiz,
Fui o princípio de tudo e de nada sou meu fim.

JMC In Redenção


sexta-feira, 1 de julho de 2011

O dia seguinte



Esta é outra história contada sobre ninguém,
Descrita pelo olhar de um nobre ancião,
Velho e parco em suas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.

Já não lembra seus condenáveis dias de glória,
A violação surda dos seres que não vão chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua vaga memória,
E a lágrima não cai, só a tempestade a chegar.

Eu também irei suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, já não vivendo por vezes.

As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes, quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Me liberto do meu corpo, morrendo em lado nenhum.

Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.

Semelhantes, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.

Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.

Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.

JMC I n Redenção


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Máscaras



Temos os nossos dias contados,
As horas e todos os minutos,
Os segundos já não contam,
Aos nossos destinos trocados,
As saudades dos nossos intuitos.

Selamos um acordo na sorte,
A prudência colocada de lado
Existe na mera hesitação,
Somos o fraco que bate o forte,
A quebra do que não foi acordado.

Sobramos de um logro vigente,
Das regras e da excepção,
Usando a outra face,
Que, sendo não muito diferente,
É o perfeito disfarce da emoção.

Cara a cara, tememos a verdade,
Usamos a máscara do ofício,
Temendo que nos saia cara
A mentira da nossa realidade,
Neste eterno e falso sacrifício.

Colocamos a cabeça no abrigo,
Espreitando o receio dos outros,
Num mórbido acontecer,
Disfarçados de um grande amigo,
Saímos e entramos aos poucos.

JMC In Punição



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Renascer





Houve um tempo em que esperei,
Por mim, por um horizonte,
Por raros momentos...por alguém,
Agora que corro atrás de mim,
Espero por aquilo que nunca serei.

Das cinzas de um tempo acabado,
Resgato um futuro esquecido,
Procuro ausência, sem me ter lembrado,
Que o começo de qualquer fim,
Tem princípio sem ter começado.

Agradeço o reencontro da saudade,
Por a conhecer desde sempre,
Por sempre me ter chegado tarde,
No amor, na dor, na contradição,
De me estar mentindo com a verdade.

Termino a juventude perdida,
Sem nunca a poder ter deixado,
E com isso acabo sem saída,
Sem mudar o rumo, ou a perdição,
Voltando atrás, em mais uma partida.


JMC In Contradição