terça-feira, 9 de agosto de 2011

Grades



Antes eu escrevia palavras onde me ficava a dor,
Rasgava o ódio e a raiva que eu sempre quis ter,
Antes eu sentia o infame que nunca posso ser,
Queria ver o sangue jorrar ao invés de um amor.

Antes eu encarcerava o azul que nasce no céu,
Numa sala repleta da minha escuridão,
Era a surdez na alegria de uma linda canção,
Era o definhar da tristeza em corpo que é meu.


Antes eu morria quando a luz me trespassava,
E do meu poema só o sangue me dizia,
Que o abismo era a saída que eu queria,
A sorte emprestou-me a desdita que me calava.

Construí um castelo cinzento que já não quero,
De pedras frias e gastas, vestidas de maldito escuro,
Numa colina de negrume, onde não mais perduro,
Onde já não subo os degraus do ínfimo desespero.

Reino em outro sem corte, sem trono desejado,
Onde me amam por tudo aquilo que eu vou ser,
Onde eu todas as noites te amo até me perder,
A ti, mulher que me fez humilde de fortuna, elevado.

Hoje sou homem novo sem grades, ou outra prisão,
Olho de fora para dentro, de mim, é lá que eu estou,
Foi ali que eu me encontrei e pertenço onde eu vou,
Sem ficar onde estou, procurando livre a imensa solidão.

JMC In Redenção

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