sexta-feira, 18 de março de 2011

Menina



Chegaste,
As mesmas lágrimas que fizeram de ti esta mulher,
Descem cristalinas pela tua pálida face de menina,
Colhem as incertezas de ti que não querias crescer,
E os desafios que te deixaram triste numa esquina.

Voltaste,
Com os caprichos e as tuas tranças negras de criança,
O teu olhar perdido é o mesmo que já os fez perder,
Por ti, homens velhos e os rapazes sem esperança,
Crescidos à pressa, meninos que não voltaste a ver.

Paraste,
E um sonho ficou parado no tempo que te vê a chorar,
Pequenos passos já só te lembram os pequenos instantes,
Que te calaram e a todos os que não te quiseram amar,
A pele que cobre o teu corpo vendido em sítios distantes.

Vieste,
De lugar nenhum, como estas ruas de sonhos perdidos,
Ruínas de casas de paredes escuras, que te viram partir,
Os passeios escusos e sombrios, de vazios enegrecidos,
E o sonho que não te deixou tempo para brincar e sorrir.

Trouxeste,
As mãos despidas, os sentidos desertos, o amor por inteiro,
Liberta da juventude perdida onde foste um corpo vazio,
Na inocência do tempo que ficou esquecido em cativeiro,
Por entre as grades frias consentidas por quem te proibiu.

Deixaste,
O fogo arder e queimar as promessas transparentes e nuas,
Deixaram-te...abandonando-te sem brisa numa tempestade,
Cresceste sem poema, apenas com o julgamento destas ruas,
No desejo de findar os momentos que te deixaram sem idade.


JMC IN Redenção

sábado, 12 de março de 2011

O Beijo do Silêncio



Chegas traiçoeiro em teus lábios cerrados,
Beijas de olhos abertos em meu tormento,
Queres encerrar-me em meu abrigo maldito,
Abraças-me, e eu a ti, no frio, desinteressados,
Desterras-me na ausência onde me acorrento.

Silencias quem não nos quer ver calados,
Secas-me as lágrimas que quero de alegria,
Feres-me de morte nos receios infundados,
Queres-me sem sorte, ou mesmo sem preço,
Dás-me a vontade de me acabar neste dia.

Sabes que me posso perder no teu silêncio,
E que me posso encontrar na tua solidão,
És um beijo que eu sei que não mereço,
Parente de fantasmas que eu não conheço,
Filho de mãe que pariu um filho em vão.

Venço-te se a minha face eu não te oferecer,
Se lábios meus se abrirem quando acordar,
Se o desejo que eu trago nunca me perecer,
E se nunca aos teus lábios gélidos eu me chegar,
Se no beijo do teu silêncio eu jamais me perder.


Não me deixes perder no silêncio...


 JMC In Redenção




quarta-feira, 9 de março de 2011

Pouco



Negras sombras de um sol inexistente,
No porquê desse constante perseguir,
Estrelas quietas num céu cintilante,
Lágrimas surdas,
Num rosto de corpo inerte, a fingir.

Nocturno e inútil sentimento,
Que me atrai sempre a lugar nenhum,
Como estrela que cai do firmamento,
Sendo a lua testemunha,
Deste meu lado negro que me é comum.

O gélido mar da minha solidão,
Onde fui e sou solitário navegante,
Onde me perco na sua vastidão,
Onde me encontro,
À deriva do meu ser inconstante.

À névoa grito sem me ouvir,
Perdendo o destino e o sentido,
Vagueio sem lugar para ir,
Distante de mim,
Como se morresse sem ter vivido.

Como se fosse impossível este meu estar,
Como se outro pudesse haver,
E não estando, como poderei ficar,
Nesta imensidão,
Não tendo existido, como posso morrer?



JMC In Punição