sexta-feira, 1 de julho de 2011

O dia seguinte



Esta é outra história contada sobre ninguém,
Descrita pelo olhar de um nobre ancião,
Velho e parco em suas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.

Já não lembra seus condenáveis dias de glória,
A violação surda dos seres que não vão chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua vaga memória,
E a lágrima não cai, só a tempestade a chegar.

Eu também irei suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, já não vivendo por vezes.

As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes, quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Me liberto do meu corpo, morrendo em lado nenhum.

Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.

Semelhantes, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.

Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.

Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.

JMC I n Redenção


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