quinta-feira, 14 de julho de 2011

Embriaguez




Sais na noite de bar em bar,
Onde outros esvaziam conversas
Mudas de sentido; no vulgar ritual,
Das escusadas promessas.

Da vida que não te deseja,
Mal dirás na frustração,
Acompanhada do teu sofrer,
Silenciosa...por condição.

E vês-te a ti num copo vazio,
Solidário, calado e transparente,
Servido nas vezes sem conta;
Vulgarizado, continuamente...

Sou capaz de te imaginar,
Nos passos do teu egoísmo.
De concordar no teu suicídio,
Incapaz de te indicar o abismo.

És cliente da influência,
Jogador de muito perder,
Adormecido no instinto,
Insuficiente...como ser.

Anjos passeiam na madrugada.
Conduzidos na tua ficção.
Negros demónios embriagados,
Empenhados na tua extinção.


JMC In Contradição


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pedaços




Naquele estranho lugar onde eu nasci,
Onde os homens se ajoelham nos rituais,
Onde os espelhos mentem como iguais,
Existe um único caminho que eu percorri,
Uma certeza que não se chama saudade,
Mães que nos acolhem em beijos ingratos,
Soldados que atiram sobre os insensatos,
Pobres famintos que mendigam a vaidade,

Naquele estranho lugar onde eu cresci,
Crescem flores nos buracos do alcatrão,
Morrem os amores e as pétalas pelo chão,
Desintegram-se pedaços do nada que vivi,
Crianças que estropiam lágrimas perdidas,
Nos olhos cintilantes das noites sem gente,
Por entre as mãos sujas, por entre feridas,
Renasço eu de um anjo negro indiferente,

Daquele estranho lugar de onde eu cheguei,
Trouxe a memória de um outro vazio repleto,
Esta ganância que arrastei por este trajecto,
É soberba e generosa, foi por ela que ultrajei,
Tanto quis o silêncio, tanta vez fugi de mim,
Servi como os outros para ser quem não quis,
Dos meus e de outros pedaços assim eu me fiz,
Fui o princípio de tudo e de nada sou meu fim.

JMC In Redenção


sexta-feira, 1 de julho de 2011

O dia seguinte



Esta é outra história contada sobre ninguém,
Descrita pelo olhar de um nobre ancião,
Velho e parco em suas palavras de desdém,
Sujo e andrajoso no caminho da escuridão.

Já não lembra seus condenáveis dias de glória,
A violação surda dos seres que não vão chorar,
Sem lápides ou cemitério, sem sua vaga memória,
E a lágrima não cai, só a tempestade a chegar.

Eu também irei suplicar por uma nova era,
Vou ajoelhar-me perante estes jovens deuses,
Erguendo meu olhar aos céus desta quimera,
Enjaulado no futuro, já não vivendo por vezes.

As nossas almas são sombras brancas serenas,
As correntes, quebro-as, grilhetas de sorte comum,
Os loucos no arco-íris, à espera de nada, apenas
Me liberto do meu corpo, morrendo em lado nenhum.

Os dias seguintes virão em chamas aclamar,
Receio que não vá mais ouvir os velhos magos,
Dos padres perversos a minha alma quero levar,
Cínicos no hábito, ou hipócritas desabituados.

Semelhantes, os teus reis e os meus vagabundos,
A crença está apenas em vil pergaminho escrita,
Fugitivos sem aventura, terminam os mundos,
Assassinos, são o caos determinado em desdita.

Anjos negros, montados em corcéis de negrume,
O que conheço perece, o que esqueço é agonia,
Rastejo mortalmente por entre rasgos deste lume,
Vence o caos, ganha a lenda que leva a melancolia.

Sinto os risos sarcásticos da minha juventude derrotada,
Já não consigo enraivecer, desfaleço no ódio dormente,
Adormeço o destino, por último piso a terra queimada,
Abraças-me enquanto morro nos teus braços indiferente.

JMC I n Redenção