quarta-feira, 29 de junho de 2011

Máscaras



Temos os nossos dias contados,
As horas e todos os minutos,
Os segundos já não contam,
Aos nossos destinos trocados,
As saudades dos nossos intuitos.

Selamos um acordo na sorte,
A prudência colocada de lado
Existe na mera hesitação,
Somos o fraco que bate o forte,
A quebra do que não foi acordado.

Sobramos de um logro vigente,
Das regras e da excepção,
Usando a outra face,
Que, sendo não muito diferente,
É o perfeito disfarce da emoção.

Cara a cara, tememos a verdade,
Usamos a máscara do ofício,
Temendo que nos saia cara
A mentira da nossa realidade,
Neste eterno e falso sacrifício.

Colocamos a cabeça no abrigo,
Espreitando o receio dos outros,
Num mórbido acontecer,
Disfarçados de um grande amigo,
Saímos e entramos aos poucos.

JMC In Punição



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Renascer





Houve um tempo em que esperei,
Por mim, por um horizonte,
Por raros momentos...por alguém,
Agora que corro atrás de mim,
Espero por aquilo que nunca serei.

Das cinzas de um tempo acabado,
Resgato um futuro esquecido,
Procuro ausência, sem me ter lembrado,
Que o começo de qualquer fim,
Tem princípio sem ter começado.

Agradeço o reencontro da saudade,
Por a conhecer desde sempre,
Por sempre me ter chegado tarde,
No amor, na dor, na contradição,
De me estar mentindo com a verdade.

Termino a juventude perdida,
Sem nunca a poder ter deixado,
E com isso acabo sem saída,
Sem mudar o rumo, ou a perdição,
Voltando atrás, em mais uma partida.


JMC In Contradição






quarta-feira, 8 de junho de 2011

Embarcação


Enquanto este vento assiste revoltado,
E as nuvens passam desinteressadas,
Parecendo casco de navio encalhado,
Promontório de alto convés,
Abismo de negras rochas granitadas.

Entra por mar dentro que nos atormenta,
Este pedaço de terra peninsular,
Fere como a espada que nos inventa,
É caravela que aqui fica,
Um marinheiro que vagueia sem mar.

Finge que aqui chegou sem sofrer,
Como se mais longe fosse alcançar
Ninfas e sereias que aqui fazem perder
Lágrimas de viúvas e órfãos,
Almas de homens que vagueiam neste altar.

Sinto-o um eterno penhasco de vigia,
Rocha que entra serena a ocidente,
Finge adormecer, na noite e no dia,
Um eterno abraço Atlântico,
Desgastando-se sem mostrar o que sente.

JMC In Punição



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sombras de esperança.






Rostos de um tempo diferente, vazio,
Perguntam por mim, pelo meu existir,
E ficando no receio de não ser,
Sinto o ninguém que não conseguiu,
Ou o alguém que teve de parecer.

Sendo o fantasma próprio, de mim,
Invento a tempestade, o dilúvio,
Sobrando da catástrofe, iminente,
Chego ao princípio, partindo do fim,
Fugindo ao infinito decadente.

Enquanto sombras ocultam o medo,
Corro atrás do meu silêncio,
Galgando os anos que ficam, restantes,
Da vida que quis ser no segredo,
Amando os sofrimentos distantes.

O meu tempo há-de chegar, cansado,
Provável. Virá nas asas do vento,
Mostrando o gosto da vingança,
Esperarei por ele gritando calado,
E o vento se tornará brisa de esperança.

Será depois indiferente o regresso,
Será apenas a luz trémula,
Que se vai fortalecer na imensidão.
Limitarei o ridículo, o excesso,
Voltarei a conquistar a minha condição.




JMC In Contradição




quarta-feira, 1 de junho de 2011

Máquina do tempo


A colisão dos tempos é insaciável e a derrota chega devagar,
Os sinais foram dispersos e os anjos nunca aqui estiveram,
Os homens não progridem e os chacais começam a chegar,
Longas vão ser as noites, gélidas de uma estação de abismo,
Ainda agora sucumbiram os algemados, os que não souberam,
Sorrir e dançar na ironia de um destino de fraterno cinismo.

Os enigmas sôfregos de um final são apenas um leviano começo,
O meu corpo é devassa nossa e a minha pele o princípio de ti,
Não me recordes desse caos, que é sangue onde eu me esqueço,
Não me dês regras à liberdade, eu sei quem ficará para nos contar,
A máquina do tempo afinal não existe e este meu sonho acaba aí,
Onde os peregrinos se perderam, onde eu vi as mães a chorar.

Ensurdeço, as vozes discordantes no uníssono de preces sagradas,
Aos deuses erguem-se as faces lívidas de ser apenas sobrevivente,
Abastadas na esperança que rareia, afastadas de outra condição,
Os senhores de outros, com destino igual nas vidas condenadas,
Babel é a torre sem regresso, é pedra sobre pedra, cimo indigente,
Ruína constante na fraude humana, cálculo despido sem razão.

Seguidores de tempos perdidos, descalços de caminho indeciso,
Pérfidas serpentes rastejam no paraíso que de azul nem o céu,
Temo apenas deixar os últimos, os que ficam para o final juízo,
Os que temem os sacerdotes, os templos e o tempo que se finda,
Homens que são lanças, mulheres que nascem atrás de um véu,

Temo o altar do sacrifício, a máquina que é do nosso tempo ainda.

 

JMC In Redenção




Mundo diferente




São dois os mundos, que por aqui são tão diferentes,
São assim dois, os lados de uma mesma moeda,
Um será primeiro, o outro não mais que um segundo,
E será mudo este segredo e serão sempre aparentes,
As diferenças entre o que aparenta e o que é profundo.

Criam-se algumas vidas à parte por sonho ou fantasia,
Escondem-se outras mais nas múltiplas imitações,
Habitam-se por troca, algumas vidas inexistentes,
Temporárias, sem percebermos que essa ousadia,
Nos leva ao mesmo sítio por caminhos diferentes.

Inventam-se vidas paralelas quando apenas uma chegava,
Seria aquela que temos e um só mundo era quase perfeito,
As pessoas sem as máscaras, ou um sorriso verdadeiro,
O mundo sem elogios artifíciais, não este que nos sobrava,
Inventado como segundo, terminando com aquele primeiro.

JMC In Redenção