segunda-feira, 5 de março de 2012

Inquietude ou a solidão dos sentidos...




III Capítulo

 

(Alguns meses depois...)



Marginal, final de manhã de um sábado quente mas meio nublado, corria o mês de Julho, Afonso tinha acabado de deixar dois amigos em Alcântara, onde se tinham encontrado para pescar.
Era um daqueles dias em que não lhe apetecia estar parado com uma cana de pesca na mão, naquela monotonia e pasmaceira de esperar que o peixe se lembrasse de picar o anzol e tinha-lhes dito que ia dar uma volta, provavelmente até Cascais, depois se veriam à noite e combinariam qualquer coisa, ir talvez ao bowling, beber um copo, logo se veria.
Rodava na faixa da direita numa condução calma, sem qualquer pressa, estava apenas com vontade de conduzir e apreciar a beleza que a Marginal proporciona, com o propósito de eventualmente se o mar o permitisse, dar um mergulho no Guincho e passar lá um par de horas a apanhar uns percebes, marisco que muito apreciava.
Absorto nestes pensamentos, olhou no espelho retrovisor, atrás de si
um BMW azul escuro rolava a uma incomodativa pouca distância do seu Mercedes, acelerando um pouco mais distanciou-se e manteve essa distância por alguns segundos.
Reparou que era conduzido por uma mulher de fartos caracóis louros. Usava óculos escuros, embora o tempo meio escurecido se mostrasse pouco convidativo ao seu uso. Reparou que se ria muito e falava ao mesmo tempo, estava concerteza a falar com alguém no móvel do carro.
Voltou a encostar-se á traseira do seu carro, e isso voltou a incomodá-lo, passou para a faixa da esquerda ultrapassando de seguida três viaturas, voltando outra vez á faixa da direita, olhou no retrovisor e reparou que o BMW tinha ficado para trás.
O tempo melhorava, á medida que se aproximava de Cascais, o sol já rasgava as poucas nuvens, estava a ficar um dia lindo, talvez ficasse só
mesmo pelos mergulhos e apanhar um pouco de sol. Parando nos semáforos assustou-se com o ruído de uma travagem brusca atrás de si, olhou pelo retrovisor, era o BMW, raios partam a condução de pessoas que se distraem a falar ao telefone, pensou, reparando na distraída condutora que rindo lhe fizera um gesto de atrevida condescendência, ao mesmo tempo que levantava a mão direita num sinal de desculpa e arrependimento, como que dizendo “ia sendo desta mas não foi” retribuiu, sorrindo e abanando a cabeça como que a reprovar o seu tipo de condução e ao mesmo tempo avisando-a que tinha sido por sorte, pura sorte não se ter enfeixado na sua traseira.
Arrancou na abertura dos sinais, não perdendo de vista o BMW que agora o ultrapassava sem pressa, olhou pela janela aberta, ela reparando nesse seu gesto voltou a sorrir, sem olhar para ele, sem desviar o olhar da sua condução. Pensou em segui-la, e quando se preparava para o fazer, ela passou um sinal vermelho, deixando-o um
pouco frustrado, mas com a firme intenção de a seguir. Atravessou a cidade sempre a uma distância considerável, pois as viaturas que iam à sua frente não permitiam que se aproximasse dela, no entanto não a
tinha perdido de vista, e logo que entraram na estrada do Guincho começou a ultrapassar os vários carros que se tinham mantido entre eles, achou curioso ela seguir também na direcção do Cabo Raso, no Guincho. Aproximou-se da sua traseira e manteve-se colado durante uns metros, depois pensou no que estava a fazer, pareceu-lhe um perfeito disparate e decidiu ultrapassá-la olhando para o seu lado direito nesse momento, riu-se mas desta vez não obteve qualquer sinal da parte dela, então acelerou e começou a ver a distância a aumentar, prevendo que iria deixar de a ver, assim aconteceu, pois ela
entretanto também se deixou ultrapassar por outros carros que seguiam nesse sentido e depois de percorrer os quilómetros que faltavam até à praia do Guincho, quase se esqueceu dela.
Intransitável, os cerca de dois quilómetros que faltavam até à praia estavam repletos de carros, não estava com paciência para ficar ali parado, alguns condutores á sua frente começavam a fazer meia volta,
pensou em fazer o mesmo pois o mar que avistava da estrada estava bom para tudo menos para mergulhar. O vento e as ondas altas proporcionavam aos surfistas e aos amantes de Kite Surf um dia em cheio, descompondo um pouco o azul forte do céu e o branco neve deixado pela espuma da forte rebentação, com as suas coloridas pranchas e asas a subir, a planar e descer vertiginosamente ao sabor do vento forte, quase tempestuoso que habitualmente se faz sentir na praia do Guincho.
Assim fez, voltou para trás, seguiu devagar na expectativa de parar a qualquer momento, olhando para o lado direito sempre a avistar o mar, na primeira possibilidade de estacionar pararia, estava com dificuldades em arranjar lugar, pois o lado direito da estrada estava repleto de carros estacionados.
Lembrou-se que junto ao Cabo Raso, habitualmente havia lugar e para lá se dirigiu. Cerca de dois quilómetros à frente virou à direita reparando que aí o mar já era outro, calmo, como se de outro oceano se tratasse.
Entrou na estrada de areão maltratada, esburacada, que dava acesso a uma pequena praia e se mantinha assim desde que tinha memória, e ainda bem , pensou, era uma forma de outros a evitarem e assim estava quase sempre sem ninguém. Andou assim mais uns metros sem pressa, virou na primeira e única curva que dava acesso á arriba de onde se avistavam os velhos viveiros de marisco abandonados e ao mesmo tempo o único acesso á praia.
Não acredito?!? Exclamou, ainda incrédulo e admirado, mas visivelmente curioso. O BMW azul escuro estava aí parado, sem ninguém lá dentro. Parou o carro exactamente onde estava, ao mesmo tempo que lhe passava pela cabeça que se a mulher estivesse por ali a vê-lo pensaria que ele era algum tarado que a seguia. Olhou em redor, nada. Saiu do carro, fechou a porta, aproximou-se da beira na pequena falésia, olhou na direcção do único sítio que achava possível alguém poder estar. Lá em baixo também não avistou ninguém, mas apenas uma toalha de praia de cor amarelo vivo, dobrada em cima de algo que julgou ser um saco ou bolsa de praia. Instintivamente olhou em frente, para o mar revolto,  lá estava ela na boca da minúscula enseada, nadava no sentido da praia, as suas braçadas eram curtas mas vigorosas, denotava que sabia onde estava, o mar ali não era propriamente bom para se nadar, pois mesmo nos dias, poucos, de calmaria, era cheio de correntes atravessadas e traiçoeiras e escondia imensos perigos, só mesmo um bom nadador ou um louco se atreveriam a tomar banho ali.
Esperou que saísse da água, o que fez vagarosamente, como se não tivesse reparado que estava ali alguém a observá-la.
Usava um fato de banho branco, e notava-se pelo seu bronzeado que já levava uns dias de praia. Sem hesitar dirigiu-se á toalha, levantou-a, destapando um saco preto de rede, ao mesmo tempo que se enxugava, olhou para cima na sua direcção. Provocadoramente, olhou-o durante uns momentos como se lhe estivesse a dizer que não se intimidava com a sua presença, embora não fosse bem vindo. Depois tirou do saco aquilo que lhe pareceu ser uma revista, sentou-se na toalha, procurou algo no saco, um maço de cigarros, tirou um que acendeu de seguida ao mesmo tempo que colocava os óculos de sol, ficou assim, virada de costas para ele, com a revista ao seu lado, descontraídamente a fumar e a olhar para a linha do horizonte.
Enquanto a observava, ocorreu-lhe dar meia volta, sair dali e procurar outro sítio, mas a curiosidade em conhece-la crescia, então como lhe era habitual, lembrou-se do velho lema que o acompanhava desde a adolescência, “só perde quem tem” e quem tinha algo realmente a perder? Não era o seu caso, o “não” já era um dado adquirido, portanto iria tentar saber quem era aquela mulher, que se lixasse, se levasse uma resposta negativa, já estaria preparado, e depois pareceu-lhe que na sua breve observação valia a pena arriscar, pois de corpo ela era escultural, de baixa estatura, mas com tudo no sítio.
Como faria? Uma abordagem directa? Simular uma qualquer casualidade? Sentar-se ao lado dela?  Enquanto estes pensamentos lhe invadiam a mente, entrava naquela fase do nervosismo miudinho e ocorreu-lhe que se calhar ela estava ali á espera de alguém, de uma amiga, pior... de um namorado. Alguém que a qualquer momento chegasse ali, e então lembrou-se que provavelmente não seria boa ideia. Nesta fase já ele tinha descido pelo lado esquerdo da falésia, já estava na boca da enseada, embora a uns bons setenta metros do local onde ela se encontrava. Olhou na direcção dela, reparou que o observava também, e nesse momento sentiu um desconforto enorme, ao ponto de não conseguir sequer mais olhar na sua direcção.
Pensou, merda! Está definitivamente à espera de alguém, o que estava ali a fazer? A forma como o olhou, desafiadora, como se não temesse a sua presença, podia querer dizer isso mesmo, ou não?
Estava a ficar irritado consigo próprio, com as suas assumidas hesitações. Simulou dar uns passos adiante, de um salto vigoroso alcançou uma rocha no meio da água turbulenta, sentiu-se observado, assim acontecia, curiosa e disfarçadamente tinha reparado que ela o seguia com o seu olhar.
Ele colocou-se de cócoras, como se estivesse a observar o local mais
minuciosamente, levantou-se e continuou a observar o mar, voltou-se no sentido dela, reparou que continuava a olhar para ele, sem qualquer intenção de o disfarçar, voltou a saltar, agora no sentido inverso, deu uns quantos passos em frente, olhando ora no sentido dela, ora para o chão, baixou-se, apanhou uma pedra de características invulgares, com uns veios de tonalidade azulada e ao mesmo tempo coloridos de cinza, lisa e polida pelo tempo e pelo mar. Tentou fechá-la na mão, mas a sua proporção era maior que a palma da sua mão,   levantou-se, estava agora a pouca distância do sítio onde ela se encontrava, sem mostrar qualquer interesse, folheando a revista, como se procurasse alguma notícia interessante, mostrava-se completamente alheia à sua presença.
Sentiu alguma decepção ao mesmo tempo que experimentava um novo e confortável á vontade, seguiu no sentido dela, pois também era agora o acesso ao seu carro que se encontrava no cimo da falésia.
 - Boa tarde! - Disse, num tom meio arrependido, algo incrédulo e receoso por ter acabado de o fazer.
 - Boa tarde! - Disse ela energicamente, ao mesmo tempo que olhava para ele, sem tirar os óculos escuros, provocadora, num tom quase intimidatório  como se o estivesse a questionar ou mesmo a interrogar, sentiu-se pequeno, aqueles segundos pareceram-lhe intermináveis, à muito que não se sentia tão desconfortável, começava a arrepender-se do gesto, embora não sentisse vontade de desistir.
- Olá, sou o Afonso - Balbuciou, com um  sorriso sincero, em simultâneo retirou os óculos de sol, baixou-se   e estendeu-lhe  a mão
amistosamente, no sentido de a cumprimentar.
- Olá, eu sou a Lara - Disse, olhando-o fixamente, pareceu-lhe, já que ela  não tinha retirado os óculos, e estes eram incrivelmente escuros, não permitindo ver-lhe os olhos, o que o deixou irritado, pois gostava de olhar as pessoas nos olhos, e nem lhe estendera a mão.
Ok está armada em difícil, pensou, ao mesmo tempo que nervosa e rapidamente recolhia a mão, disfarçando aquele impensado gesto com um tímido passar de mão pela barba por fazer, do dia anterior, coçando-a sem sentir qualquer comichão. Colocou no chão, a pedra que tinha apanhado antes, ela desviou o olhar por um segundo, mostrou-se completamente desinteressada.
- Posso-me sentar? – Insistiu.
- Pode, desde que não se sente ao meu colo – Continuando a olhá-lo fixamente, sem retirar os óculos, esboçando um sorriso sincero mas irónico. Como se estivesse a gozar aquele momento, aguardando por mais, estava visivelmente curiosa, notava-se, mas parecia muito segura de si, estava a controlar a situação, deixando para ele as perguntas, respondendo com curtas frases, não lhe dando grande espaço de manobra, ao mesmo tempo que mostrava alguma vontade em ser agradavelmente surpreendida.
- Afonso decidiu ser directo, percebeu que tinha pela frente alguém com muita experiência na vida e nas relações entre pessoas, entendeu que o normal “engate” não iria funcionar, perguntou-lhe se estava ali à espera de alguém.
- Não, respondeu laconicamente - Para que é a pedra? Perguntou.
- Para nada, achei-a apenas invulgar e bonita, e como colecciono pedras invulgares,  apanhei-a – disse.
- Também podia dar-lhe para pior - disse troçando num á vontade que o deixou completamente desconcertado, como se fosse um perfeito disparate um homem andar a apanhar pedras, ela reparando que estava a deixá-lo sem qualquer hipótese de manter um diálogo, rematou dizendo que cada maluco tinha a sua pancada, deixando no ar a ideia que também se podia associar a ele pois também teria uma pancada qualquer, mais uma vez fê-lo com aquele sorriso irónico, de quem estava nitidamente a gozar com ele.
Nisto mudou de posição sentando-se de frente para ele, cruzou as pernas na posição de índio, tirou os óculos devagar sem olhar directamente para ele, abanou a cabeça vigorosamente, passando as suas mãos pelo cabelo encaracolado, ajeitou-o e sem olhar para ele voltou a colocar os óculos escuros, esta teria sido novamente outra pequena decepção, mas Afonso já não pensava nisso, estava apenas envolvido naquele pequeno pormenor, nada demais, pensava apenas em fazer-lhe a pergunta, directamente, sem rodeios.
- Não! Não sou casada, disse-lhe ela, antecipando-se á sua indisfarçável curiosidade, tinha reparado que ao colocar os óculos ele tinha observado a aliança, que trazia no seu dedo.
- Não fique com receio que não estou também à espera do meu marido, continuou, já que Afonso em silêncio, parecia agora dono e senhor da situação, como se a tivesse apanhado numa qualquer mentira, num logro e olhava-a directamente nos olhos, sem os descortinar, mas com ar de quem esperava uma satisfação, e que não estava a acreditar muito nela.
Começava a dar resultado esse seu ar inquisitório, sem saber bem porquê, não se sentia com esse direito, mas mantinha-se firme, o “jogo” tinha virado.
Ela retirou finalmente os óculos escuros, aproximou-se um pouco mais, olhou-o fixamente, ao mesmo tempo que estendia as suas mãos, na sua direcção, retirou a aliança, facilmente, mostrando-lhe o dedo nu, disse-lhe que reparasse no dedo, que visse a não existência de qualquer marca demonstrativa de um uso constante.
Disse-o com um ar visivelmente irritado, demostrando-lhe que não gostava de pessoas intrometidas, que aliás o uso ocasional da referida aliança era precisamente esse, o de muitas vezes afastar palermas intrometidos, homens fúteis, para os quais já não tinha paciência, pois eram todos iguais, só a procuravam com um intuito... sexo.
Os seus olhos eram castanhos, mas a raiva que soltava na resposta davam-lhe um ar de extrema acutilância, aproximando-os de um negro brilhante, de fera assanhada.
Afonso riu-se, em simultâneo puxou de um cigarro, oferecendo-lhe um também, ela recusou dizendo que gostava mais dos da marca dela, perguntando-lhe de seguida se ele era casado, ou se também era daqueles que escondia a aliança quando conhecia alguém ocasionalmente, dando-lhe de seguida alguns exemplos de casos que já teriam acontecido com ela. Afonso acendeu o cigarro, deu duas passas, apoiou-se no braço esquerdo e perguntou-lhe.
- E se for?- estou a faltar-lhe ao respeito? Estou a fazer algo que coloque em causa a minha seriedade com a minha eventual mulher?
- Então é casado!?! E o que espera de mim? Porque razão se meteu comigo? O que pretende? Não sente um arrependimento? Faz isto muitas vezes? Perguntou-lhe ela metralhando-o sem lhe dar hipótese de resposta.
Afonso voltou a sorrir, ao mesmo tempo que puxava da carteira, de onde retirou o Bilhete de Identidade, estendo-lho, disse-lhe calmamente.
- Não. Lara, sou divorciado e desajuntado.
Lara olhou para o B.I., meio envergonhada, leu que era verdade, mas sem deixar cair a guarda, ainda ripostou, que podia ser verdade mas se calhar tinha namorada,  e não se coibia de estar ali a “arrastar” a asa, e assaltou-lhe a pergunta. Desajuntado? Que raio queria isso dizer?
- Isso mesmo.- Disse-lhe Afonso.
Explicou-lhe então que tinha vivido maritalmente com Marta, cerca de nove meses e meio, que tinha sido uma relação difícil, que a separação tinha sido muito mais complicada que o seu divórcio. Ela já mais calma, parecia interessada em saber mais pormenores, mesmo os que percebia terem sido os mais sórdidos, mas Afonso estava neste momento muito mais interessado em conhecer Lara, mais do que voltar a falar num assunto que nada lhe  agradava, que lhe trazia ainda muitas mágoas. Lara percebeu e de seguida contou-lhe que estava divorciada á cerca de 8 meses, que tinha mesmo depois disso a percepção que o ex. marido a seguia constantemente. Percepção ou certeza? Afonso estava intrigado.
Lara disse-lhe aquilo que lhe pareceu ser a verdade, honestamente pensou que afinal a raiva que  Lara tinha demonstrado anteriormente resultava disso mesmo, perseguição... e não só, chantagem psicológica, violência verbal e  mesmo física e o que nunca pensara vir a ouvir, Lara contou-lhe que ele a tinha perseguido e violentado após o divórcio.
Afonso não querendo acreditar, perguntou-lhe porque não tinha feito queixa dele á polícia, se os amigos e familiares sabiam o que se tinha passado, disse-lhe mesmo que achava estranho, quando ela falara disso, pois parecia ter um ar de resignação, como se não fosse assim tão grave. Lara disse-lhe que não contara a ninguém senão a uma amiga de infância e a um grande amigo, que via como a um irmão, mas na única condição de nada contarem.
Afonso fez-lhe a pergunta inevitável, porque lhe contara a ele, um perfeito desconhecido, alguém que poderia mesmo tê-la seguido e pudesse estar a mando do ex. marido, porquê ele?
Lara demonstrava uma frieza incrível, embora parecesse um animal selvagem ferido. A emoção mais forte era a da inegável vontade de se vingar, deu-lhe a entender que sobre o assunto da violação e da eventual vingança teria de ficar por ali, não lhe iria dizer mais nada...por enquanto, era por isso o seu ar resignado. Em relação a ter tido esta conversa com ele, disse-lhe simplesmente que Afonso lhe inspirava alguma confiança, podia não estar a falar com a pessoa certa, mas também gostava de saber a opinião de alguém que não a conhecesse, sentia alguma vontade em desabafar com alguém.
- E voçê não deve estar a mando de ninguém, pois quem estava atrás de si na Marginal era eu, certo?
- Pois tem razão, já me tinha esquecido que me ia abalroando. E vejo que tem boa memória, recorda-se então que era eu que estava à sua frente?
- Porquê? Você para estar aqui, é porque reparou no carro que está lá em cima não?
- Sim, tem razão, acredita no destino? - Perguntou Afonso.
- Acredito que as coisas não acontecem sempre por mero acaso.
Afonso, perguntou-lhe ainda se tinham ficado filhos dessa relação, ela com algum desagrado e incómodo disse-lhe que precisamente por não terem filhos é que ele a perseguia e a tinha violado no sentido de a engravidar, pois sabia que se isso acontecesse ela não iria abortar, era contra os seus princípios.
Afonso estava ficar com um nó na garganta, aquela mulher, e tudo o levava a crer que estava a falar verdade, era uma vítima disfarçada naquela capa de mulher sem medo, tinha sofrido enquanto casada, torturas impensáveis e nem o seu divórcio a tinha deixado descansada. Vivia num constante terror, mas acomodada nesse seu sofrimento, silenciosa. Pensou que afinal o que se tinha passado na sua relação anterior, mesmo com as perseguições que Marta ainda lhe fazia era em tudo incomparavelmente menor com o que lhe tinha descrito Lara.
Ela contara-lhe isto tudo a ele, um perfeito desconhecido, sem qualquer desconfiança, num misto de raiva, vingança, e ódio.
Ele sem conhecer o ex. marido de Lara, já sentia uma raiva enorme, já o via como alguém que odiava também.
Estiveram cerca de duas horas a conversar, foram falando de tudo e embora Lara lhe tivesse manifestado vontade de não falar mais sobre aquele assunto ia acabando por lhe contar a sua aterrorizante e recente vivência.
Lara era uma mulher nova, tinha trinta e quatro anos, dois dos quais casada, tal como Afonso, tinha casado tarde, não se queria prender antes dos trinta, era vendedora de  automóveis no Estoril, era daí que tinha conhecido o seu ex. marido, mostrou-lhe um cartão de uma antiga empresa que tinham tido os dois, e um actual onde trabalhava agora, era um stand de um amigo, que lhe tinha dado uma pequena sociedade, uma percentagem pequena, de incentivo, ela contou-lhe que até isso o ex. marido lhe tentara roubar, e as lágrimas, que até aí estiveram ausentes, apareceram a afogar-lhe o olhar, a toldar-lhe a voz, Afonso teve compaixão dela e num gesto de amizade, com o polegar, tentou limpar-lhe o rosto, ela não esboçou nenhuma desaprovação, como se sentisse sinceridade nele e até algum desejo que o fizesse. Aproximando-se mais, Afonso deu-lhe um beijo na face ao mesmo tempo que com a outra mão a acarinhava, fazendo-lhe uma pequena festa em volta dos olhos húmidos. Em simultâneo sentiu os braços fortes dela em volta do seu corpo, sussurrando-lhe ao ouvido enquanto o apertava num imenso abraço, um eterno obrigado.
Ficaram assim, abraçados durante um bom par de minutos, e tanto Lara como Afonso, perceberam que estavam perigosamente próximos. Lara soltando os braços que envolviam Afonso, foi agradecendo o carinho, em simultâneo tirou um maço de lenços de papel  do saco de rede, enxugou os olhos humedecidos e assuou-se.
Afonso com um sorriso, disse-lhe:
- Que achas de eu te convidar para beber uma cerveja? Posso tratar-te por tu não? Está a ficar um pouco desagradável e sempre podíamos ir
até uma esplanada, o que me dizes?
- Óptima ideia, nem demos por este vento levantar e está realmente a ficar frio, claro que nos podemos tratar por tu. Olha tenho um amigo que tem um bar na praia de Carcavelos, e faz uns caracóis espectaculares, gostas de caracóis?
- Se gosto? Sou doido por caracóis, vamos embora já!
Lara levantou-se, arrumou apressadamente as suas coisas dentro do saco, vestiu a saia de ganga e a blusa de linho amarela por cima do fato de banho, Enquanto Afonso a observava, calçou os chinelos e perguntou-lhe se costumava ir muitas vezes para ali, dizendo-lhe que esta era a terceira ou a quarta vez que se tinha ali deslocado.
- Costumo vir aqui algumas vezes, mas praticamente só para pescar, não me recordo de te ter visto por aqui nenhuma vez.
- Pois andámos desencontrados. - Disse-lhe Lara.
Afonso pegou-lhe no saco, dirigindo-se à base da falésia esperou por Lara, estendeu-lhe a mão e ajudou-a a subir as rochas íngremes.
Já no cimo, Afonso ofegante deixou escapar uma frase.
- Bolas estou a ficar velho, isto cansa.
- Não és só tu, eu também estou de rastos, se me tapassem agora a boca ficava-me já por aqui. – Disse Lara, nitidamente ainda mais cansada.
Afonso perguntou-lhe se ela iria consigo ou vice versa.
- Não. Eu vou à frente e depois dali vou para casa.
- Sim é melhor. Não só por isso mas porque tu também és um pouco perigosa a conduzir e ainda te enfeixas na minha traseira- Disse-lhe Afonso com ar de gozo.
- Que gracinha, vê lá se te cai um dentinho com a piada, Oh ! – Exclamou Lara ao mesmo tempo que apontava para o seu carro. – Eu não acredito!?! Que merda era o que me faltava. Porra!
Olha – disse-lhe Afonso - E não é só o pneu da frente, se reparares o de trás está da mesma maneira.
Incrédulos olhavam para ambos os pneus do BMW de Lara. Os dois em baixo, inacreditável. Trocaram um olhar de admiração e também de acordo, alguém tinha ali estado, olharam em redor mas quem eventualmente o fez, já não estaria ali concerteza.
Ambos concordaram que não deram conta enquanto lá estiveram por debaixo da falésia, de nenhum carro a aproximar-se, mas também era difícil, com a conversa, distraídos, o barulho do mar, e alguém que o fizesse não precisava de se aproximar de carro, podia perfeitamente tê-lo feito a pé.
- Queres apostar que foi o cabrão do meu ex. filho da mãe, só podia ser ele ou alguém a mando dele – Soltou Lara.
- Calma, não podes dizer isso, sabes lá se foi ele, sabes que andam aí uns gajos agora que fazem isto, depois os donos ausentam-se para ir buscar pneus ou ajuda e quando chegam têm lá o lugar.  Habitualmente um carro desta gama vai de reboque e perde-se o paradeiro para sempre. Vá ! – disse-lhe Afonso, não tenhas a mania da perseguição.
- Pois acredito, é nisso e no Pai Natal, aposto contigo que foi ele ou alguém das relações de merda que ele tem.
- Bom não aposto, o que sei é que ainda quero ir comer os caracóis e portanto temos de arranjar uma solução para sair daqui - Respondeu-lhe Afonso ao mesmo tempo que se baixava para verificar os pneus.
Os pneus não pareciam estar furados, talvez estivessem apenas sem ar. Afonso transmitiu-lhe isso, acalmando-a, dizendo-lhe também que se assim fosse estavam com sorte, tinha uma bomba de  encher o seu barco de borracha dentro do carro, demoraria um pouco mas se não estivessem furados sairiam dali rapidamente.
Abriu a mala do seu carro, retirou a bomba e começou a encher o pneu da frente, parou um pouco para verificar se deixava sair algum ar, não saiu e então recomeçou, até ficar com o aspecto dos outros.
Repetiu a operação no pneu de trás, retirou e arrumou a bomba novamente no seu carro. Neste espaço de tempo estiveram os dois sempre em silêncio, no entanto Afonso não tinha deixado de pensar nas vezes que Marta ou alguém em que ela mandaria o tinham deixado nesta situação, com um ou dois pneus em baixo, depois da sua separação. Quem sabe se não teria sido ela? Ainda ? Ao fim deste tempo todo? Bom não queria ainda dizer a Lara tudo sobre a sua relação inacabada com Marta, era melhor por agora deixar Lara pensar que tinha sido o ex. marido e não falar mais nisso.
- Vês?!? – Foi rápido, vamos embora? Daqui a vinte minutos estamos em Carcavelos, de volta daqueles caracóis, espero que sejam mesmo bons, que eu sou muito esquisito. Estou com uma sede, agora caía mesmo bem uma imperial, embora? Lara concordou e agradeceu-lhe com um sorriso, entrou no seu carro, pô-lo a trabalhar e arrancou devagar, Afonso seguiu-a, entraram na estrada do Guincho na direcção da Boca do Inferno, atravessaram o interior de Cascais, vagarosamente, o  trânsito estava um caos, filas de carros intermináveis, aquela hora era complicada, ainda para mais o tempo tinha estado convidativo, e depois Cascais era um centro turístico, nesta altura do ano, o Verão convidava residentes, turistas de ocasião, imensa gente de nacionalidade diversa a visitar as suas solarengas praias, as suas imensas esplanadas.
Ainda a pensar no sucedido, Afonso dizia para si, que raio, que dia, tinha conhecido Lara, uma mulher, não muito bonita é verdade, mas muito atraente, inteligente, uma mulher que lhe parecia ser sincera, tinham-se conhecido daquela forma, invulgar, tiveram uma agradável conversa, embora para falar dos seus sofrimentos e infelicidades, e depois para rematar, a história dos pneus, bom agora queria mesmo era caracóis, imperiais e conhecê-la melhor.
Quinze minutos depois estavam a entrar num dos  parques de estacionamento da praia de Carcavelos, arrumaram facilmente os carros apesar de aquela hora a praia estar como de costume, repleta de gente, eram sete horas da tarde, mas o sol ainda estava preguiçoso.
Desceram umas escadas de acesso á praia, andaram cerca de trinta metros, por entre as esplanadas.
- Já viste? Hoje nada nos corre bem- disse Lara, apontando para a porta do bar do amigo.
Na porta de vidro, um papel com uma cruz negra, um obituário indicando o fecho por motivos fúnebres.
- Bom mas devem existir aí outros bares onde haja caracóis não? além disso estou com sede.
- Afonso, sabes que mais? Com tudo isto, e não me sai da cabeça a história dos pneus, sei lá até estou com receio de ligar para o meu amigo e perguntar-lhe o que se passou, quem terá morrido? Já não me apetece nada, acho que vou para casa tomar um bom banho de imersão, deitar-me sem jantar, sei lá, não te importas pois não?
Afonso disse-lhe que compreendia e não se importava, concordou algo decepcionado mas não estava com vontade de a contrariar, pediu-lhe apenas que o acompanhasse numa imperial, depois sairiam dali, cada um para sua casa.
Assim fizeram ao balcão de outra esplanada, não se sentaram. Afonso tirando o cartão que ela lhe tinha dado, perguntou-lhe se não se importava que ele lhe ligasse á noite, ou se queria ficar com o seu número de telefone.
Ela disse-lhe que lhe ligasse, mas que não criasse muitas expectativas, não estava com muita vontade, nem de falar, muito menos de sair, quanto ao número de telefone quando ele lhe ligasse ficaria a saber., qual era o seu número.
Beberam rapidamente, pagaram e voltaram para os carros, despediram-se amistosamente com dois beijos na face e uma carícia mútua, ela sem olhar para trás entrou no seu carro e afastou-se dali, enquanto Afonso falava sozinho.
- Vou-te ligar ! Gostei muito de ti, vou querer voltar a estar contigo.
Saiu dali, mas sem pressa, abrindo os vidros do carro, levantou o volume do leitor de CDs. acendeu um cigarro, e nesse instante lembrou-se:
Que merda! Esqueci-me da pedra! Oh que caraças, Era bonita para a minha colecção. Bom, no domingo se estivesse bom tempo voltaria ali talvez, sabia perfeitamente onde a tinha deixado. Mas também era só uma simples pedra, se lhe apetecesse tudo bem, se não, o que não faltavam eram pedras.


















Falta-me o inconstante olhar no futuro,
Onde me canso, gasto e envelheço,
Falta-me ir de encontro ao que não procuro,
Onde me falta o princípio do meu fim,
Onde me recolho na falta, em vez de um começo.

Sinto um soberbo desvendar do meu segredo,
Encantado numa volátil brisa tardia,
Fico miserável ao me ocultar no medo,
Sou destroço, pouco mais que nada,
Esperando a chegada da sôfrega melancolia.

Talvez cedo de mais para eu por aqui ficar,
E talvez tarde de mais para eu só, partir,
Acolho-me na hora incerta para me tentar,
Num suicídio que ainda me espreita,
Que me deseja neste meu breve sentir.

Suspiro na falta da tua e da minha vontade,
Assim como me falta o teu ventre vazio,
Espero que nunca sofras na minha saudade,
Nem recordes aquele que eu não sou,
Lembrando somente quem nunca partiu.

Reconheço-te na dor de nós separados,
Como reconheço a sombra que nos persegue,
Julgarei quem nos fez injustos condenados,
Sendo mártir de uma última coragem,
Abrindo um mar onde o nosso amor navegue.

Afonso







Embora sem conseguir prestar muita atenção, tentava compreender o porquê daquele poema, deixado por Afonso naquela manhã em cima da pequena mesa de centro, na ampla e sumptuosa sala.
Lara ainda meio ensonada, dirigiu-se à janela da sua varanda, abriu os estores, olhou para o céu azul e límpido onde o sol soberbo reinava à um bom par de horas. Bocejando, esfregou os olhos, ainda mal habituados à claridade que irrompia agora pela sala meio desarrumada.
Sentou-se no amplo sofá creme, cruzou as pernas. Por um breve momento colocou a folha ao seu lado, olhou em redor. Sorriu, os seus sapatos de salto alto permaneciam espalhados pelo chão da sala. No sofá pequeno ao canto e no chão continuavam as suas roupas amarrotadas. Relembraram-lhe a noite anterior.
Tinha sido ali que ela e Afonso tinham feito amor pela primeira vez. Passaram-lhe pela mente, em acelerada retrospectiva todos os momentos tórridos que tinham feito sentir um ao outro.
Afonso tinha-lhe telefonado nessa mesma noite. Lara apesar de não estar com muita vontade acabara por aceder a sair com Afonso devido à sua enorme persistência.
Tinham apenas passeado na pequena praia da Torre, bebido um café, conversando mais um pouco, nada de mais.
Quando a trouxera a sua casa, Lara perguntara-lhe se não queria subir, com o pretexto de beberem alguma coisa e conhecer a sua casa.
Esse era apenas um pretexto, pois tanto Lara, como Afonso sentiam-se imensamente atraídos um pelo outro. Já na praia, naquela tarde o tinham sentido. Como esperava, Afonso tinha dito que sim, não sem antes ter evidenciado uma pequena hesitação, talvez admirado com a franqueza de Lara, talvez por ter partido de Lara, essa iniciativa.
Não se sentia incomodada por ter conhecido alguém numa tarde e com essa mesma pessoa ter tido sexo na mesma noite. Embora esse tipo de atitude não fizesse parte dos seus hábitos, Lara desta vez estava à imenso tempo sozinha. Afonso pelo que lhe tinha contado também. Seria verdade? Teria tido alguém à pouco tempo? Ainda estaria com alguém? Deixou de sorrir, pegando na folha de papel com o poema, preparando-se para o ler. Pressentiu que eventualmente estaria ali a resposta a todas essas questões que a assaltavam. Já começara a despertar daquela madorna. E o que estaria a sentir Afonso? Teria gostado tanto quanto ela?
Voltou a ler. Continuava não só a não perceber o porquê, bem como o próprio poema. Não era das coisas que mais apreciava, aliás até achava um pouco enfadonho, ler livros, romances, quanto mais poesia. Afonso seria assim? Enfadonho? Tinha percebido que Afonso não era uma pessoa superficial ou fútil e isso agradava-lhe. Imaginou-o um pouco romântico, nessa noite ele tinha-lhe oferecido uma rosa vermelha, a qual permanecia em cima do aparador, no hall de entrada.
Talvez até nem lhe tivesse dado a importância devida, mas a fogosidade que Afonso tinha manifestado ao entrar em sua casa não permitiu que a colocasse numa jarra com água.
Pensou... qual a mulher que não gostaria de ter um homem romântico ao seu lado? Sinceramente... Lara era uma mulher demasiado prática, a sua profissão, a sua maneira de viver também não a deixavam ser de outra forma, mas fazia o que gostava, muitíssimo. É claro que dava importância aos preliminares, mas não tanta assim. Gostava de sentir atenção, carinho e adorava todos os jogos de sedução. Afonso tinha acabado de entrar pela sua vida dentro, assim, como um furacão, prático e incisivo...mas romântico.
Deixou de ler, colocou a folha novamente sobre a mesa. Não estava com paciência. A hora da manhã também não era a mais propícia, muito menos para leituras daquele género. Perguntar-lhe-ia mais tarde, pessoalmente. Ficaram de almoçar nesse dia. Lara ligar-lhe-ia para ele a ir buscar assim que estivesse despachada.
Levantou-se indolente, espreguiçou-se, foi até ao quarto, pelo caminho ainda tropeçou nos seus próprios passos, meio trôpega. Foi ajeitando o farto e louro cabelo encaracolado. Parou diante do espelho sobreposto ao aparador.
Os seus olhos desceram na direcção da rosa. Tocou-a levemente, sem a mover, enquanto se encaminhou novamente para o seu quarto. Apesar de tudo ainda tinha algumas horas naquela manhã de domingo. Despiu o robe de cetim rosa transparente e deitou-se novamente, sem qualquer intenção de dormir, apenas a de ficar assim, num prolongado relaxamento em cima da sua cama desfeita.
Um perfume suave e agridoce, com uma ligeira fragrância a madeira, ainda invadia teimosamente o seu quarto, que se mantinha numa preguiçosa penumbra. O longo cortinado de cor rubi, ocultava por completo a janela entre aberta. Gostava daquele cheiro. Deixou cair a cabeça levemente para o lado esquerdo da cama. Era ali que o odor nascia, um suave odor que lhe deixou uma agradável permissão em se excitar. Cheirava a homem...
Não conseguiu resistir. Acariciou as pernas com as suas mãos suavemente, foi subindo lentamente, enquanto fechava os olhos imaginando que Afonso estivesse ali. Uma das mãos ficou, a outra subiu, percorrendo o que restava do seu corpo até aos desnudados seios, acariciando-os, com algum vigor, como querendo-os despertar. Não ficou aí muito tempo. Começou a lamber e a morder o indicador, enquanto a sua outra mão se mantinha apertada entre as suas pernas, escondendo um dedo laborioso.
Sentia o calor a subir pelo seu corpo, abriu as pernas devagar como se estivesse preparada para ser penetrada, assim fez, colocando dois dedos no interior da humedecida vagina. Num vai vem lento, de prazer, levantou os joelhos alternadamente. Depois fê-lo mais frenética e energicamente, enquanto da sua boca saíam lânguidos e longos sons de prazer. Enquanto mordia os lábios, soltou um sorriso imenso de satisfação sem abrir os olhos, tinha acabado de ter um orgasmo. Estendeu o seu braço esquerdo na direcção onde Afonso tinha adormecido na noite anterior, imaginando-o ali...acabou também por adormecer.















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