terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fogo inesquecível



Sinto o flamejante olhar que se repete,
Sinto-te pele da minha pele, quente,
Fogo-fátuo que sem lugar nos promete,
Fogo sem dono, que nos morde devagar,
Não sei da arma de fogo que não sente,
Nem dos homens que me vieram acabar.

Acendemos longe aquele fogo de artifício,
Mesmo assim ele vem cercar-me a alma,
Montado no gélido e tempestuoso vento,
Passageiro que se extingue no sacrifício,
Irmão qualquer de chama que nos acalma,
Filho bastardo de um inesquecível tempo.

Conheço o demónio que em si o guarda,
Desconheço-me rebelde nas rubras chamas,
Não esperei em vão por um dia que me tarda,
Debrucei-me no abismo sem nunca cair,
Enquanto as lágrimas tuas que me amas,
Caem pétalas púrpuras na luz do meu sorrir.

Pego-me a ti, num fogo inesquecível,
Num fogo sem rédea, sempre que tu vais,
Amamo-nos neste olhar, neste sem querer,
Faço-te a minha única e chama impossível,
Neste vil banquete onde se acendem castiçais,
Apagam-se fogos que não deviam nunca arder.

Vemos o último fogo inconsequente e sagaz,
Cobardemente caído em cinza que eu mereço,
Mesmo incessante de tudo e de nada capaz,
Nos braços ténues que em seu lume eu nasci,
Entendo-o agora, ao passado a que não pertenço,
Vens tu comigo porque foi por ti que me acendi.

Incendeia-me quando e sempre me quiseres,
Acorda-me e deixa-me aos teus lábios eu dizer,
Que eu existo neste nosso fogo novamente,
Onde chamas já não são receio de me perderes,
Onde não existe mar que separe nosso querer,
Onde se acende este fogo que arde para sempre.



JMC In Redenção

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