quarta-feira, 19 de janeiro de 2011




“Ontem”


Ontem nada me deixou, só um provável tempo perdido,
Deixo-te onde ontem fiquei, deixo-te como acabei, vazio,
Ontem foram horas de ausência, tu e eu, horas de nada,
Um dia em que adormeci num corpo sem alma, despido,
Mas existe sol para além dessa estrada que ninguém viu,
Um amanhã de cores que me libertam à minha chegada.

Coloco o meu olhar na lua branca em quarto crescente,
Tranquei todas as portas e abri as janelas da minha vida,
Senti que ontem era dia de acabar, que me sentia dormir,
Passaram imagens a correr e um rio seco sem corrente,
Não vi lágrimas, nem tristezas, nem aquela página foi lida,
Duas vidas se seguiram, novos passos e um novo sorrir.

Ontem fui irmão do silêncio enquanto o espírito gritava,
A minha captura, os anéis da serpente, a canção despida,
O brilho não eram diamantes, luz negra debaixo do véu,
Inquietei o fantasma distante, ouvi a música enfeitiçada,
Deixei o punhal no teu corpo, deixei para sempre ferida,
A noite de ontem que acabou por morrer, negra sem céu.


Nem a vil memória, nem uma reconstrução do passado,
Nem o brilho de outro olhar nos ficará nesta lembrança,
Um coração bateu fora de tom, e o que não existia ficou,
Como as estrelas mudas não quiseram mais ter escutado,
Ontem foi um fim, mas o dia que nos trouxe a esperança,
Deixou o dia de hoje que nos sorri, e o sol que nos restou.

JMC In Redenção








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