segunda-feira, 16 de maio de 2011

Linhas




Nestas linhas bruscas, paralelas, vislumbro a tua coragem,
Levam-me neste trem, onde deixo a minha vida adiante,
Nas tuas mãos eu sigo sem medo de interromper a viagem,
Sem amarguras ou tristezas que me foram uma constante.

Embarques, desembarques, a minha outra vida ficou distante,
Estou de mãos vazias, estou pobre, mas não viajo em vão,
Espero-te nesta linha, sem querer mais que um teu instante,
Viajando comigo, descendo a meu lado na mesma estação.

Circulo já sem querer a saudade do que foi meu passado,
Prevejo o aço frio deste novo caminho de ferro com sentido,
Prevejo a fantasia de um sem rumo como fui anunciado,
Cerro os olhos para te sonhar, dou-te o meu corpo despido.

Em cada paragem deixo-me esvair por me sentir atrasado,
A paisagem faz-me a mudança em tempo que eu acho fugaz,
Felicitam-me por estar a caminho e nesta linha quase parado,
Desafia-me a esperança e a tua espera que me deixa incapaz.

A última estação fica no infinito desta linha que eu imaginei,
És o meu único trajecto, a demora que em nós quis acreditar,
Quem descobriu esta linha férrea foi um amor que eu sonhei,
Um desejo que sobreviveu, um doce querer de em ti viajar.

JMC In Redenção



1 comentário: