sexta-feira, 27 de maio de 2011

Alentejo...longa seara de desejo.




Vi-te, a ti Alentejo
Sofrer como ninguém,
Das tuas searas de desejo,
Teus filhos vi
Abandonar; irmãos de minha mãe.

Vi-te, nos olhos a tristeza,
Teus montes de branco caiados.
Vi-te ficar só, camponesa,
Também só,
Te vi ser chorado.

Vi tua paisagem serena,
De planícies soalheiras.
Vi não valer a pena
Homens, sentados
Ao serão das tuas lareiras.

Vi-te pastor sem ceia,
Sem rebanhos para guardar,
Sem crianças, a aldeia,
Sem futuro,
Vi-te também abalar.

Minha terra de mel
Que o Sol sempre aquece,
Porque te amarga o fel
As entranhas,
De ti e de quem te apetece.

Vi-te homem sem jorna,
Moleiro sem trigo, a moer
A azenha que já não torna
Os grãos em farinha,
O forno sem pão para cozer.

Vi-te linda ceifeira,
Sem joio para separar,
Vi-te no chão, a peneira
E a magana da vida,
Que não te deixa mais ceifar.

Vi-te ficar além Tejo,
Por entre barrancos de vida,
Perdi-te já não te vejo,
Nem oiço em ti,
Minha infância perdida.

Digo-te a saudade,
Que nunca foi adeus.
É apenas e só vontade
De para ti voltar,
E nascer, filhos meus.

JMC In Contradição





1 comentário:

  1. Essa tua faceta da poesia...é algo que me surpreende :) Tem um excelente fim de semana!!

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